As carraças transmitem doenças aos nossos animais de estimação, mas também ao ser humano. Entre Março e Outubro todo o cuidado é pouco
A febre da carraça debilita muito o cão , o gato e o ser humano. photo by Graça Afonso

O calor está para chegar e as carraças chegam com ele! Prevenção é a palavra de ordem!

As carraças são parasitas que se alimentam de sangue, do cão, do gato e de outros mamíferos, incluindo o Homem.

As carraças são poderosos agentes transmissores de doenças, e só os mosquitos as superam na transmissão de zoonoses a nível mundial.

Esta carraça introduziu-se no céu da boca do gato
Carraça no céu da boca de um gato. Imagem Facebook/Vetset, em Palmela

O termo “febre da carraça” dá nome a uma doença provocada por um ou vários microrganismos, que a carraça injeta no cão ou no gato, enquanto se alimenta do seu sangue. E quais são os agentes da “febre da carraça”?

Em Portugal os agentes infecciosos transmitidos pelas carraças que causam a causa nos cães ou nos gatos são de dois:

1 – Parasitas unicelulares (protozoários), que infectam os glóbulos vermelhos do sangue, e que                                                                                                            pertencem ao género Babesia (Babesia canis e Babesia gibsoni);

ou

2 – Bactérias intracelulares obrigatórias, que podem infectar uma variedade diferente de células sanguíneas. O tipo de célula infetada define a espécie da bactéria e influencia o curso da doença. As bactérias desta classe mais importantes na região mediterrânea são a Erlichia canis e a Rickettsia conorii.

Embora estes agentes provoquem doenças de gravidade diferente, clinicamente não é fácil distingui–las.

Processo de transmissão da doença

A transmissão acontece com a picada da carraça. E a principal espécie de carraça transmissora de doença, na Europa, é a carraça comum do cão (Rhipicephalus sanguineus). Trata-se dum parasita, que tem como hospedeiros principais o cão e outros mamíferos de médio porte, mas que também pode picar seres humanos. Estas carraças  três hospedeiros para completar o seu ciclo de vida:

– as larvas saem dos ovos e procuram um hospedeiro para se alimentar de sangue. Durante esta fase, as carraças são muito pequenas e são, conhecidas pela designação popular de “chumbinhos”. Quando estão cheias de sangue, caem ao chão;

– Uma vez no chão, mudam para a fase de ninfa e procuram um novo mamífero, no qual voltam a alimentar-se de sangue. Finalmente cheias de sangue, regressam ao chão;

– E temos a carraça na sua fase adulta, que procura mais um hospedeiro para se alimentar. Acasala no hospedeiro e as fêmeas caem no chão para pôr os ovos e concluir o ciclo de vida.

Registe-se que carraça pode transmitir a doença em qualquer fase do ciclo de vida, mas apenas as carraças infetadas com o (ou os) agente (s) infeciosos nas glândulas salivares conseguem fazê-lo. Isto implica que tenham picado, anteriormente, um animal doente, uma vez que a maioria dos agentes da “febre da carraça” apenas consegue passar dum estado evolutivo para outro (de larva para ninfa ou de ninfa para adulto). Quando uma carraça pica um animal, injecta saliva com propriedades anticoagulantes, que lhe permite alimentar-se continuamente. É deste modo que os agentes infecciosos conseguem entrar na corrente sanguínea dos animais hospedeiros.

Os sintomas da “febre da carraça” no cão?

A “febre da carraça” pode evoluir de modos muito diferentes. Não existe preferência pela idade, nem pelo sexo do cão ou do gato e todas as raças podem ser afetadas. No entanto, está descrita uma maior suscetibilidade para algumas raças desenvolverem uma forma crónica mais grave, entre as quais se destaca o Pastor Alemão.

A diversidade de sintomas está associada a muitos fatores diferentes, incluindo a espécie do agente, a competência do sistema imunitário do animal e a existência de outras infeções em simultâneo (vários agentes de “febre da carraça” ao mesmo tempo ou a presença de outras doenças, como a leishmaniose). No entanto podem descrever-se três fases: Aguda, Sub-clínica e Crónica.

A fase aguda tem uma duração de 1 a 4 semanas, com um período de incubação (entre a infeção e a apresentação dos primeiros sintomas) de 1 a 3 semanas. É frequente encontrar carraças nos cães,durante esta fase.

Os sintomas são pouco específicos e incluem: febre (que confere o nome à doença), falta de apetite, perda de peso moderada, depressão, anemia e/ou aumento do tamanho dos gânglios linfáticos. Alguns pacientes apresentam tendência para hemorragias nasais e a formação de hematomas, de dimensão variável, na pele e mucosas (boca, órgãos genitais). Também podem ser observadas diversas alterações oculares (desde corrimento ocular a inflamação da íris, opacidade da córnea ou hemorragia no interior do globo ocular), bem como sintomatologia nervosa (convulsões, paralisias, alterações na locomoção).

A fase subclínica ocorre após a resolução dos sintomas anteriores e pode prolongar-se entre 40 dias e vários anos. O cão ou o gato não apresentam sintomas, mas as análises clínicas ainda denunciam alterações moderadas.

A fase crónica ocorre apenas em animais cujo sistema imunitário não funciona bem e é muito grave. Os animais com formas crónicas de “febre da carraça” apresentam perda de peso crónica,fraqueza, depressão, febre, inchaço dos membros posteriores e palidez acentuada, que reflecte uma anemia grave. Além da anemia, estes animais, também têm contagens de glóbulos brancos muito baixas, o que os torna particularmente suscetíveis a contrair outras infecções. Muito animais crónicos coxeiam, por apresentarem artrite em várias articulações.

O diagnóstico da “Febre da Carraça”

A suspeita da doença é baseada na sintomatologia apresentada pelo animal, época do ano e história de infestação por carraças. No entanto, o diagnóstico específico do agente (ou agentes) envolvido exige que sejam efetuadas análises ao sangue do cão, em laboratórios especializados. Para além da identificação do microrganismo, é importante em termos de terapêutica e acompanhamento da evolução do processo, que seja efetuado um hemograma (contagem das células do sangue).

Tratamento… É possível! Os animais que são tratados durante a fase aguda da doença exibem, geralmente, melhoras 24 a 72 horas após iniciarem a medicação. O tratamento é feito com um antibiótico, prescrito pelo médico veterinário do seu cão. Alguns cães mais debilitados podem necessitar de terapêutica de suporte associada e até de transfusão sanguínea. Sendo que o prognóstico é favorável para a maior parte dos cães durante a fase aguda. Ao contrário o tratamento dos cães com formas crónicas de “febre da carraça” é amiúde desanimador e de prognóstico grave.

A prevenção é uma arma poderosa

A forma mais eficaz de prevenir esta doença consiste no controlo das carraças transmissoras. Existem no mercado vários produtos eficazes, na forma de coleira, pipeta spot on ou spray, que podem ser utilizados seguindo as instruções do laboratório, durante os meses de atividade das carraças (pelo menos, entre Março e Outubro). Não arranque a carraça de qualquer maneira.

Evite os passeios pelo campo ou zonas com erva, que os cães adoram farejar. Prefira passeios na praia ou em parques caninos.

O controlo da infestação por carraças é uma forma eficaz de reduzir a incidência desta doença a nível mundial.

Desde há alguns anos, existe uma vacina contra a Babesia canis (apenas um dos agentes responsáveis pela febre da carraça no cão). No entanto, a eficácia desta vacina parece estar limitada pela variação das estirpes do agente.

Também é possível que encontre literatura recomendando a administração de antibióticos em dose baixa, durante as estações quentes, nas áreas de maior incidência da doença. Este procedimento não é aconselhado pela maioria dos autores, porque poderá conduzir ao desenvolvimento de resistências, que prejudicarão o sucesso do tratamento em caso de doença.

O ser humano também pode contrair a doença

A “febre da carraça” é uma zoonose, ou seja, uma doença que atinge o Homem e os animais. Assim se uma carraça infectada picar um ser humano, pode transmitir-lhe o agente infeccioso.Tal como no cão, há vários microrganismos que podem provocar doença no Homem e a gravidade do processo depende do agente infeccioso envolvido. Alguns microrganismos são mais perigosos para o Homem, do que para o cão, mas o oposto também se verifica. O contacto com um cão doente não implica, maior risco para os humanos. A carraça pode manter-se infectada e transmitir o agente durante 155 dias. Pelo que uma pessoa que não tenha cães, pode ser infectada ao ser picada por uma carraça , enquanto pratica qualquer atividade ao ar livre. Os sintomas desta doença no Homem são paralelos aos que encontramos nos animais de companhia e incluem febres altas e a presença de manchas vermelhas na pele, bem como a marca da picada da carraça, algures no corpo, o que é deveras difícil detectar, já que as carraças escolhem locais do corpo mais escondidos, nas axilas, atrás das orelhas, no cabelo e no caso referido pela Vetset, no céu da boca de um gato.

Não esquecer que entre Março e Outubro há que fazer prevenção com produtos adequados, mas também evitar passeios pelo campo.

Evite os passeios no campo entre Março e Outubro, milhares de carraças esperam a sua oportunidade, para sugar o sangue do seu cão.
evite passeios no campo entre Março e Outubro. photo by Graça Afonso

Colaboração de Vetset na cedência de informação e de imagem.

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