Akira,uma jack russel terapêutica
Akira, a salvadora

Texto e fotos Paula Martinheira*

AKYRA, A SALVADORA

 

A minha filha Joana é que lhe deu o nome: Akyra, que significa luz em japonês. Abreviámos para Kyra e há quem pergunte, quando a levo ao jardim ao pé de casa, “Kyra, de Shakyra?”, “Não, Kyra, de luz”, respondo, com um sorriso na boca, pensando que, de facto, a minha cadela foi a luz, que iluminou a escuridão em que a minha vida se tornou, quando, há cinco anos, os médicos, me rezaram a tenebrosa sentença, “não pode trabalhar mais. A sua vida vai mudar radicalmente”.

No dia 26 de Junho de 2016, um trombo embolismo pulmonar maciço, seguido de um enfarte do miocárdio e de três paragens cardiorespiratórias, atiraram-me para um estado de coma de quase um mês, com poucas hipóteses de sobrevivência. Nesse período, estive ligada à ECMO, ventilada, alimentada com uma sonda nasal, algaliada, cheia de cateteres e ventosas pelo corpo todo, monitorizada por não sei quantas máquinas, no Hospital de São João, no Porto.

A família despediu-se de mim, até que um dia verti uma lágrima, levantando-se, assim, uma réstia de esperança. A equipa médica dizia que havia hipóteses de sobrevivência, mas iria ficar num estado vegetal para o resto da vida. Quando saí do coma, não andava, não falava, não mexia os dedos, não sabia contar 2+2. Ao fim de três meses e de reabilitação intensiva cognitiva e motora, regressei a casa independente e autónoma.

Continuei a minha reabilitação a nível de psicologia cognitiva, fisioterapia, terapia ocupacional e da fala, mas estava impedida de trabalhar. Reformaram-me por invalidez e a minha vida transformou-se num imenso e odioso vazio. Ora, eu fui durante 25 anos! Nos últimos cinco, dei aulas de formação profissional na área da Comunicação a mais de 5000 alunos! Tive uma vida laboral super activa, muito pouco monótona e altamente gratificante e, de repente, vi-me em casa, sozinha e a tentar desesperadamente não entrar em depressão.

Até que um dia, uma antiga aluna mostrou-me uma fotografia de uma ninhada, que a sua cadela Jack Russel tinha acabado de ter e, sabendo da minha situação, ofereceu-me um exemplar. “Eu, que me canso tanto, ter uma raça dessas em casa? Nem pensar? Não é para a minha condição física!”, respondi, à oferta. “Vai ver que o que eles têm de energia e garra, têm de inteligência, meiguice e amor”, argumentou ela, com conhecimento de causa.

Aos dois meses, trouxe a Kyra para casa. Tem sido, ao longo destes quatro anos, a melhor terapia para as minhas sequelas. Porque me obriga a brincar, a mexer-me, a rir, a estar sempre bem disposta, porque me arranca de casa e leva-me ao jardim e faz-me bem vê-la correr e brincar com as suas bolinhas…e porque me dá lambidelas de amor, quando me vê em baixo, quando não consigo fazer certas tarefas de casa e fico frustrada.

Akira adora ver televisão
Akyra e a comunicação social

 

 

 

A Akyra é a alegria da casa, a luz da minha vida.  Estou a pensar ir ao Registo Canino e renomeá-la AKYRA SALVADORA.

Akira é uma cadela muito energético e ao mesmo tempo muito meigo e atento ao dono
Akyra não deixa por mãos alheias o seu instinto de presa
*Jornalista e professora de Comunicação 

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