
Desabafo de um golfinho moribundo
“Eu era só um bébé em busca de alimento… Eu não sabia que as redes dos pescadores humanos atingem quilómetros de comprimento, onde arrastam todo o alimento outrora livre e disponível, sem este avassalador risco de vida…

Eu não sabia, que uma vez apanhado nessa teia da morte, em vez de me ajudarem a regressar à liberdade, me cortariam as barbatanas peitorais e anal, sem dó, nem piedade…
Eu não sabia, que os investigadores já concluíram, que pelo menos um golfinho, roaz ou boto, morre desta forma nas águas portuguesas, todos os dias…
Eu também não sabia, que os humanos eram assim tão cruéis…
Foi o princípio do fim da minha curta vida e para trás ficou a minha mãe em agonia…
Sem poder nadar para regressar à superfície, onde respiram os golfinhos, eu morri lentamente por afogamento…

Depois o mar quis denunciar o crime, e levou o meu corpo pequenino, na minha última viagem, até uma praia em Sintra, no primeiro Domingo de Outubro, e aí fiquei a sangrar perante o espanto de uns, a insensibilidade de outros e a tristeza de poucos…
E fizeram muitas fotografias, cuja utilidade desconheço…
Verti uma última lágrima de sangue, para denunciar o crime… A minha morte não pode ficar impune!
Eu era só um golfinho bébé, que inocente, me alimentava num oceano supostamente livre…”
Este testemunho foi ditado pela dor, que senti, ao tocar no corpo daquele golfinho, na esperança que estivesse vivo, para o ajudar a voltar a casa, mas já não havia nada a fazer, senão denunciar mais este crime ambiental.
texto e fotos Graça Afonso