Mascarilha é um cão que foi adoptado. De cor reme tamanho médio e uma mascarilha branca e preta no focinho
Mascarilha, o meu cão

MASCARILHA, O MEU CÃO

Texto e fotos

Maria Júlia Fernandes*

Durante muito tempo, a minha vida esteve mais ligada a gatos, até que um dia aconteceu algo inesperado: quase fui atropelada. Ao sair apressada para o trabalho  choquei com dois cães que corriam, também apressados, pelo passeio à minha porta.

Conhecia um deles, o ” Orelhudo”, um cão já velhote mas muito vivo e independente que se recusava a ficar em casa quando os donos saiam e dava grandes passeios só regressando quando eles também voltavam. O outro, era um cachorro novinho desconhecido, cor de caramelo e muito exuberante. Um pensamento fugaz me atravessou a mente e desejei que não fosse mais um dos bichos abandonados que, volta e meia,  eram largados aqui na rua.

Mascarilha é um cão que foi adoptado. De cor reme tamanho médio e uma mascarilha branca e preta no focinho
Mascarilha, o meu cão

Ao fim da tarde, no regresso do trabalho, reparei que na oficina junto ao meu prédio reinava uma grande agitação apesar de já ter passado da hora de encerramento. No interior, o cãozinho que vira de manhã estava muito quieto a dormir por baixo do balcão e um dos trabalhadores tentava pelo telemóvel arranjar-lhe um dono o que parecia estar a ser uma missão difícil. Uns já tinham outros bichos, outros estavam ausentes de casa o dia todo… Ninguém podia. E gerou-se um impasse porque era necessário fechar a loja e não se conseguia colocar o cão em lado algum.

“Fico eu, pronto”, disse, para alívio de todos. Lá entrei em casa, com um cão ao colo em vez de um gato, o último dos quais tinha morrido havia pouco tempo, aos 20 anos,  com uma doença renal sem remédio.

O recém-chegado era muito simpático, meiguinho e com um belo focinho preto a sobressair do dourado do resto do pelo. Chamei-lhe “Mascarilha”. Dormiu uma noite santa, não fez xixi em lado algum, não ladrou e parecia já conhecer a casa.

No dia seguinte, foi a visita ao veterinário. Calculou-se a idade (mais ou menos seis meses), examinou-se o estado de saúde (estava bem), levou algumas vacinas sem protestar, fez-se o registo legal e o passaporte canino e saiu pelo sua própria pata, muito lampeiro e bem disposto. Só que, ao chegar a  casa, entrou na porta ao lado, a loja onde tinha estado no dia anterior e fez uma enorme festa a todo o pessoal. Grandes lambidelas à D. Odete que, a partir de então, ficou com a categoria de “madrinha” e arranjou-lhe um prato para a ração, que lhe dá, biscoito a biscoito.

Mascarilha e a madrinha
Mascarilha e a madrinha, a Dª Odete

É assim há oito anos. Logo pela manhã, ao sair para o primeiro passeio higiénico, vai tomar o pequeno almoço na oficina pela mão da madrinha.

Mascarilha, um cão especial de cor creme e mascarilha no focinho
Mascarilha

Mas o Mascarilha tem outro amor: o João que lhe ensinou algumas boas maneiras caninas, que o leva à rua duas vezes por dia e o apresentou a alguns dos seus amigos canídeos  como, por exemplo, o Chicão. Há outros, mas o Chicão, um cão pastor inglês, grande, branco, muito peludo, encaracolado e com uma madeixa cinza sobre os olhos é o preferido. O Chicão é o cão mais bem educado que conheço, um verdadeiro lorde.

Ainda o João não chegou à nossa casa, já o Mascarilha está a avisar com valentes latidos para lhe abrirmos a porta. Salta-lhe quase para o colo, muito  alegre, abana o rabo, puxa-o para o elevador e…adeus dona que vou passear.

No bairro, toda a gente pergunta pelo Mascarilha que, actualmente já embranqueceu o pelo do focinho mas continua  bem disposto e brincalhão, salvo quando alguém que não conhece entra lá em casa, ou na rua, se algum desconhecido se aproxima demasiado da dona.

É um bicho feliz, seja lá o que isso significa em matéria canina. Há pessoas que quando nos encontram olham para ele e dizem és um cão com muita sorte.

Engano, eu é que sou uma pessoa com muita sorte por tê-lo como companhia e agradeço à Providência quase ter sido “atropelada” por um minorca dourado e de focinho preto que alguém muito malvado abandonou na minha rua.

 

*Jornalista

 

 

 

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