Ringo merecia melhor. Foto do Facebook

Por Graça Afonso*

Em memória de Ringo, Fluffy, Mané, Rita, Feliz, Mestre, Matilde, Spoky, Joly, Pipa, Guga, Benny, Pipas e de todos quantos pereceram ou foram vítimas de abandono e maus tratos e ainda sem nome.

 

fotos dos cães que morreram no Bosque dos Pimpões, hotel canino
Vítimas do Hotel Bosque dos Pimpões. Foto do Facebook

Vítimas do Hotel Bosque dos Pimpões

A GNR recebe denúncia sobre desaparecimento de uma mulher de 49 anos, de nome Maria Reis, dia 29 de Julho e desloca-se prontamente ao local de habitação da mesma. Aí depara-se com a casa dos horrores; doze cães mortos e onze em péssimas condições higiénico-sanitárias e com evidentes sinais de sub-nutrição. Ainda segundo vários tutores e Ana Amaro, presidente da Associação Adoromimos “há vários animais desaparecidos”.

Maria Reis arguida num processo de abandonos e maus tratos a animais
Maria Reis responsável pelo hotel canino Bosque dos Pimpões, em Igreja a Nova, é suspeita pela morte de 12 cães. Foto do Facebook

Maria Reis geria o Bosque dos Pimpões, em Igreja a Nova, concelho de Mafra. O hotel, supostamente solidário, prometia, espaço, conforto, higiene e segurança. Assim se beneficiava da confiança de donos, tutores e associações de protecção animal, como a Adoromimos e a UPPA (União Para a Protecção dos Animais), o que permitiu este dramático e inesperado fim de doze animais, que ali se encontravam supostamente protegidos do abandono e dos maus tratos de que já haviam sido vítimas no passado.

Desde 2019, que Maria vinha informando associações e tutores de alegadas adopções, que não eram acompanhadas, nem por imagens, nem por identificação das novas famílias, o que alguns estranharam e perante a sua insistência, Maria encontrou sempre novas desculpas, que afinal eram mentiras. A acção decorreu ao longo do tempo, não se podendo considerar um surto psicótico. As causas que levaram Maria Reis à suposta prática deste crime hediondo, ainda estão por esclarecer, embora não exista nenhuma, que justifique o resultado constatado.

O Bosque dos Pimpões era um ponto de recolha do Projecto AJUDA ALIMENTAR ANIMAL (PAAA/Mafra / APA Torres Vedras) e contava com o apoio alimentar e financeiro de tutores e associações, como a Adoromimos, para manter os animais ali alojados. Durante a pandemia deixavam a comida ao portão e mesmo assim Maria desistiu deles, levando-os à morte.

Quatro dos onze sobreviventes foram entregues aos seus legítimos proprietários. Sendo que um deles, a Pipas, cuja tutora era a Maria Reis, e que foi entregue à UPPA, também não resistiu e morreu, pois vinha muito debilitada. De boa saúde está a sua mana, a Selfie, ambas adoptadas na UPPA, no passado.

Os restantes sete foram recolhidos pelo Canil Municipal de Mafra, que contactado pela PawsNews, nos remeteu para o Gabinete de Comunicação, que também se recusou a responder às questões colocadas, alegando o segredo de justiça.

Ficamos assim sem saber se o espaço estava ou não licenciado, depois de cerca de duas décadas de funcionamento no concelho de Mafra. Também não sabemos qual o destino dos sete cães recolhidos pelo canil, nem qual o resultado da necropsia, que revelará a causa da morte dos doze cães. Será que isto também tem a haver com o segredo de justiça?

Segundo a associação Adoromimos, Boris, um dos cães de Maria Reis, que sobreviveu, estará de volta a associação, onde foi por ela adoptado.

Quanto a Maria Reis, supostamente em casa de familiares, no Porto, a GNR informou, que foi elaborado auto de notícia pelo crime de maus-tratos e abandono de animais de companhia e o mesmo foi remetido para o Ministério Público.

A PawsNews tentou sem sucesso contactar Maria Reis e a proprietária do espaço.

 

 

Testemunhos

Shandra Almeida, trabalha com cães abandonados há 28 anos

Temos conhecimento que existem mais animais desaparecidos que tinham sido entregues à Sra D. Maria Reis, gerente do Hotel Bosque dos Pimpões.

A si Maria Reis , dou-lhe a oportunidade de dizer onde estão os restantes animais, nomeadamente 6 bebés com 4 meses.

Porquê é que mentiu a quem sempre a defendeu?

Apenas quero justiça pelo sofrimento destes seres inocentes!

Apenas quero que estas mortes não tenham sido em vão, que se faça sentir o respeito pela lei, pela justiça em Portugal,

Espero uma palavra da Sra D. Maria Reis, porque se houve alguém que julgou outras situações, foi ela.

Nenhuma depressão, nenhuma patologia por mais grave que seja, tem este resultado, as amigas ofereceram ajuda! Quem sou eu para falar desta doença? Sou alguém que teve uma depressão profunda, nunca ultrapassada, mas foram os animais que me fizeram sair da cama!

Os protectores dos cães tentaram visitar o local, sob todas as mentiras e por terem um respeito ao seu trabalho, acreditaram nela, confiaram os seus protegidos às suas mãos criminosas!

Não me calem!

 

Raquel Osório, tutora de Ringo

Adeus Ringo! Não sei quando partiste, esta incógnita mata-me. Será que sofreste muito? Desculpa meu amor por ter confiado em quem não devia. Pensei que estavas feliz, tu confiavas tanto nela! Perdoa-me

Está a ser muito difícil superar a morte do Ringo e dos outros cãezinhos. Só penso no sofrimento deles, na agonia e de como tudo foi feito de forma gratuita e cruel. Não há justificação possível. Porquê? Como é que não tive a mais leve suspeita? Porque é que confiei?

Ele e os outros só queriam amar e ser amados! Já tinham a sua quota de sofrimento. Fiquei tão contente por o ver feliz! Por ela o querer adoptar!

Não consigo parar de pensar na agonia deles. Parece que os ouço a pedir ajuda. Sinto-me completamente sem chão. Podem achar que é exagero, mas para mim foi um choque tão grande, que ainda agora me custa a acreditar. Como pode haver gente tão dissimulada, mentirosa e cruel? Porque é que os matou infligindo tanta dor? Porquê?

Nunca te hei-de perdoar Maria Reis

“Eu sei que um dos animais mortos era o que eu resgatei da rua, porque o chip ainda estava em meu nome”, conta Raquel Osório, “protectora” de um dos cães encontrados mortos. “A dona do hotel era recomendadíssima, não vai encontrar quem fale mal dela e tinha muito jeito com os cães. O Ringo entrou no final de 2018 e eu pagava 150 euros por mês para o ter no hotel. Estava satisfeita.”

Em Janeiro de 2020, tudo mudou: “Arranjei uma pessoa, que estava interessada em adoptar o Ringo e contactei a Maria. Mas ela disse-me que estava afeiçoada ao cão e que ele estava adaptado à matilha e que o queria adoptar. Desde esse dia, nunca mais me mandou uma foto do Ringo e quando eu pedia arranjava sempre desculpas. Ao contrário do que a lei obriga, não mudou o chip do Ringo para o nome dela”.

Manuel, nome fictício

Manuel direccionou para o Bosque dos Pimpões, mais de uma dezena de animais, que resgatou da rua. “Muitos foram adotados, mas alguns foram ficando.” Rita e Matilde, por exemplo, cadelas “muito traumatizadas” estavam no hotel desde finais de 2017. Maria recebia ração e 100 euros por cada uma.

Manuel ainda entregou mais dois cães, mas no início do ano passado, quando pediu para tirar fotos aos cães para reactivar a página da adopção, começaram as evasivas: “Dizia que não conseguia tirar fotos, porque eles saltavam muito nas boxes e ela sozinha não conseguia”. Em Abril de 2020, “disse-me que tinha arranjado adoptantes para os cães e quando pedi que assinassem um termo de responsabilidade, disse que não era preciso, porque confiava plenamente neles”. “Quando pedi fotos, disse-me que não eram pessoas de redes sociais e que não gostavam de tirar fotos.”

Uma das cadelas foi adotada pela dona do hotel. A outra “planeei levá-la para uma casa, que estava a construir e que tinha espaço, mas ela disse-me que era melhor a cadela ficar no hotel e eu cedi”. “Foi a última vez que falei com ela. Até meio do ano passado fui sempre pagando pelos animais, que não eram adoptados e dei sempre uma contribuição para a ração.”

Manuel já viu os animais resgatados com vida e nenhum era dos que lhe entregou. “Não posso afirmar que estão mortos, mas tendo em conta o padrão é o mais provável.”

 

A história de Ringo

 

Ringo, labrador preto, um dos cães encontrado sem vida no hotel canino Bosque dos Pimpões, em Igreja a Nova, no concelho de Mafra
Ringo um cão extraordinário, que merecia melhor destino. Foto do Facebook

Ringo teria muito para contar se estivesse vivo e pudesse falar. Ringo é a história de qualquer cão abandonado, que gente sem coração, nem dignidade algum dia deixa para trás por esta ou aquela razão, que nunca justificará o acto de abandono ou maus tratos.

Ringo foi resgatado por Raquel Osório, no Alentejo, imigrou para uma família de acolhimento no norte do país, daí veio para Mafra, para o Bosque dos Pimpões em 2018. Parecia que havia chegado a porto seguro…

Teve candidatos para ser adoptado, mas Maria negou-lhe a oportunidade de uma família. Em troca deu-lhe a morte de presente e do Bosque dos Pimpões já não saiu com vida.

Ringo era um cão extraordinário, e como todos os seus companheiros de infortúnio merecia a vida e uma família que o protegesse e acarinhasse…

Esta é a história de Ringo, mas milhares de Ringos tem histórias de abandono e maus tratos. Por favor esterilizem os Vossos cães, não venham com a história da ninhada para viver a experiência… A experiência resulta em seis ou mais vidas, que vão andar para aí ao abandono. E sobretudo não adoptem por impulso!

Um cão sofre muito quando perde a sua família!

*Jornalista

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