Os cães e os gatos da Casa do Cabeço

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Cães grandes que se dão bem com gatos
Cães e Gatos do Cabeço

Os cães e os gatos da Casa do Cabeço

 

Texto e fotos Fernando Oliveira*

 

Tudo começou em Julho de 2005, quando, numa das habituais idas à Suíça, por motivos profissionais, caminhava a pé, para ir jantar num restaurante de montanha, no Dent de Vaulion, a 1.500 metros de altitude. Foi então que vi, ao fim daquela tarde chuvosa, uma frágil velhinha a ser arrastada pelo seu cão, que alegremente ia passando de árvore em árvore, de pessoa em pessoa, cheirando tudo, de cauda a abanar e olhar brilhante e doce. Nunca tinha visto um cão assim e fiquei, de imediato, rendido e apostado em ter um.

Estava hospedado na vizinha Le Brassus, pequena localidade do Vallée de Joux, no cantão de Vaud, onde visitava a Audemar Piguet, marca de Alta Relojoaria. Este é o coração da indústria relojoeira helvética, está incluído no chamado Arco Jurássico, onde as grandes manufacturas estão instaladas. Zona de vales, florestas, lagos, ribeiras. Ao longe, nos cumes, manadas de vacas pastam, até que cheguem as primeiras neves e elas tenham que recolher aos estábulos, cá em baixo.

Indaguei: que raça era aquela? “Oh, monsieur, c’est un chien de ferme, un petit bouvier suisse…”, disse-me, afastando-se logo, levada pelo cão. De imediato pesquisei e percebi – era um cachorro, daí o “petit”, pois de pequeno já não tinha nada. Tinha estado pela primeira vez diante de um Grand Bouvier Suisse ou Grosser Schweizer Sennenhund.

Uma raça habitualmente confundida com o Bernois, que tal como ele é um cão de quinta, usado para o pastoreio de gado vacum. Também era usado na distribuição de leite ou para passear crianças, atrelado a pequenas carroças.

Raro mesmo na Suíça, pouco conhecido, o grand bouver suisse é, ainda assim, mais frequente, na Suíça de língua alemã.

Vacheron, uma rara raça canina suíça
Vacheron e a gata

Com idas de uma ou duas vezes por mês àquele país, procurei de imediato como adquirir um. A busca não foi fácil e durou 12 anos, sendo até motivo de troça de quem sabia da minha busca. “Então, é desta vez que levas o cão?”

Até que, um dia, recebo um email num inglês hesitante, vindo da Presidente da Associação suíça da raça. “Um relojoeiro amigo seu disse-me que está interessado num grand bouver suisse. Está habituado a ter cães grandes? Onde é que ele vai viver? Sabe as especificidades da raça?”. Tudo foi respondido e, em Março de 2017, numa habitual e anual ida de carro a Basileia, combinei com ela ir escolher um cachorro a um criador da zona. Eu e a minha mulher escolhemos um entre 14 da ninhada e fomos para a Baselworld, a maior feira do mundo do sector de relojoaria. Uma semana depois, estávamos de novo com o criador e, à boa maneira suíça, estava tudo tratado. O cachorro, nascido a 25 de Janeiro, baptizado de Vacheron, fez a viagem ao colo da Filipa, até ao Alentejo, à Casa do Cabeço, no Parque Natural do Vale do Guadiana, munido do seu passaporte suíço e do registo no Livro de Origens do país.

Porquê Vacheron? Porque é suíço, porque é esplêndido, raro, exclusivo… e caro. Como os relógios Vacheron Constantin… O projecto ainda não terminou e estamos empenhados em obter uma Constantine para este filho de campeões.

Berg, um serra da estrela de pelo curto

Quando chegou à Casa do Cabeço, o Vacheron teve que conviver, sem problemas de maior, com o Berg, um Serra da Estrela de pelo curto, que viria a falecer um ano depois.

O Berg tivera que conviver com o Gurkha, um arraçado de podendo português que, apesar do tamanho, tinha ascendente sobre ele. O Gurkha morreu com 17 anos, cego e surdo.

Berg e Gurka ambos a serem recordados pelo dono
Berg e Gurkha e aprova que os cães não se medem aos palmos
Gurkha, o ancião da Casa do Cabeço

No Cabeço sempre houve gatos. Para os cães, a regra é simples. Se é da casa, o convívio é mais ou menos pacífico. Se não é da casa… é melhor fugir.

Os gatos não têm nome. E, os de casa, vão desaparecendo, em ciclos de vadiagem. Eles e outros, totalmente estranhos, fazendo incursões tipo “operação comando”, vão-se arriscando a entrar no mundo do Cabeço, para comer, mas rapidamente fogem, acossados pelos cães. Mas há uma gata “residente”, que permanece há vários anos connosco. Conviveu com o Gurkha, com o Berg, com o Vacheron e… com o Borg, outro Serra da Estrela de pelo curto, que nasceu a 1 de Outubro de 2018 e que está registado no Livro de Origens Português.

A gata segue-os por todo o lado, sobretudo o Vacheron, que do alto dos seus 65 kg, lhe rosna de vez em quando, incomodado por tal “assédio”. Mas ela, indiferente, não se afasta, antes o lava, numa relação maternal que nunca tínhamos visto. E, no Inverno, dorme sobre ele ou sobre o Borg, que apesar de ser mais novo, tem um forte ascendente lusitano sobre o fleumático Vacheron.

 

*jornalista

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